terça-feira, 9 de novembro de 2010

Miss Imperfeita




"Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!


E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias.

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem..

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.

Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.

Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'


Martha Medeiros - Jornalista e escritora
(Texto na Revista do Jornal O Globo)

6 comentários:

JuGalante disse...

Tá no Riooooooooooo! Que delícia! Agora você pode comprar o livro direto lá no blog! Tem um link do pag seguro! Muiiiiito obrigada pelo apoio, você é muitooooo querida!
Beijos da Juju

Sandrinha disse...

Bom dia!
Amiga, o texto é td de bom!
Somos seres imperfeitos tentando nos melhorar e isto requer tempo e aprendizado.
Concordo com o ter tempo; na ganância de se ganhar dinheiro, tem mta gente esquecendo de viver e dando valores errados às coisas(são consumistas ao extremo).
Eu penso assim, precisamos do dinheiro p/ viver, lógico, assim podemos ter um pouco mais de conforto, um carrinho melhor,uma casa legal, um trabalho q nos realize(seja lá o q for, dentro ou fora de casa); daí nos tornamos escravos e queremos cada vez mais e mais e abrimos mão de priorizar o tempo q temos p/ passar com nossa famíla, é exagero. Qnd fomos parar p/ curtir, estaremos velhos e gastando td com remédios e o tempo não volta.
Por isto dentro do possível nem q seja um final de semana, vou viajar com marido e as vezes com filhas e nos reunimos p/ um almoço ou lanche em família.
Beijinhos!!!

Sandrinha disse...

Maitê
Fui lá no blog da Ju e vi um recadinho seu. Vc tá no Rio?
Não me falou nada!
Comprei o livro dela e chegou ontem aqui em casa, vou começar a ler semana q vem, pois vou viajar 6ª feira e só volto 2ª e não quero fazer nada só descansar.
Bjks!!

Coisas do Casal (Cynthia) disse...

Já havia lido este texto, mas não canso de reler! Acho muito interessante, verdadeiro!! Seria ótimo se nós (mulheres) conseguíssemos segui-lo!!

Beijinhos!

Daniela disse...

Amei o texto!
Eu preciso aprender a dizer NÃO e sem culpa!
Ai será que um dia eu consigo?
Prometo a mim mesma que vou tentar e espero conseguir!

Flávia Shiroma disse...

Olá minha querida,

Concordo plenamente com vc.
Vivi tantos anos dizendo sim e me submetendo a fazer coisas que não queria, que de 2009 pra cá decidi fazer só aquilo que achava bom para mim.

Claro que às vezes a gente cede por causa do maridão, mas a gente faz isso com amor. Para ceder ou dizer sim quando quer se dizer não, deve ter amor, senão não rola.

Mas, de resto.... me desculpe mas digo NÃO meeeeessssmo!!!!!


Bjssss